A onda de otimismo que invade a Bolsa

Posted on 2 de fevereiro de 2019

Bastam alguns minutos numa roda de conversa sobre política e economia para irem surgindo as mesmas pautas de sempre: desemprego, inflação, juros, cotação do dólar… e, é claro, a famosa bolsa de valores. Sua cotação e seus níveis de desempenho estão entre os principais assuntos comentados por jornalistas, economistas, cientistas políticos e pelo público em geral – muito disso pela sua importância na hora de determinarmos o alcance e a estabilidade da economia de um país. Mas, afinal, o que é a bolsa de valores? Por que ela é tão importante?

A bolsa de valores consiste em um mercado organizado onde são negociadas ações de sociedades de capital aberto (de naturezas pública ou privada) e outros valores mobiliários. Embora ela possa ser organizada na forma de uma sociedade civil sem fins lucrativos, a forma de organização mais comum nos dias de hoje é aquela em que as bolsas de valores atuem como sociedades anônimas, visando lucro através de seus serviços. No caso de ser organizada como sociedade civil, seu patrimônio é representado por títulos pertencentes às sociedades corretoras que a compõem; se for organizada como S.A., este patrimônio é composto por ações. A bolsa deve preservar elevados padrões éticos de negociação, divulgando com rapidez, amplitude e detalhes as operações realizadas sob sua supervisão.

Historiadores da temática ainda não entraram em um consenso em relação às origens deste tipo de organização, entretanto, é evidente que, nos primórdios do capitalismo, os mercados de negociação tinham características muito diferentes das bolsas atuais, que surgiram em meados do século XV, na esteira da expansão comercial. Com o advento da Revolução Comercial foram criadas as bolsas de Antuérpia, na Bélgica, e Amsterdam, nos Países Baixos. Nos anos subsequentes surgiram também as bolsas francesas e a Royal Exchange, da Inglaterra. O comércio de ações, contudo, só tomaria forma no século XIX. Algumas bolsas mantiveram a função de negociar mercadorias, enquanto outras voltaram-se para o comércio de valores. Esse fenômeno foi marcado principalmente pelo surgimento da bolsa nova-iorquina, no final do século XVIII.

As ações são “cotas” de uma empresa aberta cujo patrimônio é dividido e distribuído a investidores – que, por sua vez, se tornam “donos” parciais da companhia. Grosso modo, as ações tratam-se de pequenos “pedaços” de uma empresa. Geralmente, o capital de uma instituição é aberto para compra e venda de ações quando ela decide expandir seu negócio – e, para isso, necessita de investimentos externos. As ações da Bolsa são divididas em grupos com características, vantagens e riscos diferentes, sendo as principais as ações ordinárias (ON) e as ações preferenciais (PN). Além delas, também compõem o mercado de ações as units, blue chips, mid caps e small caps.

            Como mencionado anteriormente, as bolsas de valores também são responsáveis pelo comércio de títulos e valores mobiliários, que consistem em títulos de propriedade (ação) ou de crédito (obrigação), emitidos por entes públicos ou privados, com características e direitos padronizados (cada título de uma dada emissão tendo o mesmo valor nominal ou a mesma cotação em bolsa, mesmos direitos a dividendos). Essa definição aponta como “valores mobiliários”, quando ofertados publicamente, quaisquer títulos ou contratos de investimento coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou remuneração, inclusive resultante da prestação de serviços, cujos rendimentos advém do esforço do empreendedor ou de terceiros.

Tais conceitos nos são “escondidos” quando falamos da bolsa de valores enquanto índice econômico. No senso comum e no dia a dia, quando falamos sobre os altos e baixos da Bolsa, fazemos referência aos seus principais índices. Na BM&F Bovespa, por exemplo, o principal referencial é o Ibovespa (Índice Bovespa). O Ibovespa nada mais é do que uma carteira teórica que reúne ações com maior volume de negociação do mercado acionário nacional – sua finalidade é a de servir como indicador médio do comportamento do mercado. Para tanto, sua composição procura aproximar-se o máximo possível da real configuração das negociações à vista (lote-padrão) na BM&F Bovespa. As ações que compõem o índice são responsáveis por cerca de 80% de todo o volume negociado na Bolsa.

O movimento de alta e de queda dos índices da Bolsa é definido pela oferta e pela demanda. Ou seja: quando os investidores estão comprando mais um ativo e dispostos a pagar mais por ele, os preços sobem. Se a maioria resolve vender suas posições e a oferta supera a demanda, os preços tendem a cair. Podemos pensar a Bolsa de Valores como uma grande feira. A pressão compradora e vendedora de uma ação pode variar de acordo com inúmeros e diversos motivos: questões da economia nacional, notícias internacionais, ou mesmo por motivos relacionados à própria empresa. Puxando um exemplo mais atual, os problemas encarados pela Vale após o Desastre de Brumadinho (MG) interviram diretamente na cotação das ações da empresa na Bovespa. Os problemas na economia do país também podem afetar negativamente ou positivamente o desempenho das ações e, consequentemente, fazer com que as ações se desvalorizem ou valorizem. Quando a economia do país está sólida, sem grandes problemas tanto interna quanto externamente, os investidores ficam mais propensos ao risco e voltar a comprar no mercado de ações, fazendo com que os papéis se valorizem. Pensando estrategicamente e tendo em mente todos os conceitos e condições aqui discutidos, colocar a casa em ordem sob as perspectivas institucionais e estabilizar a economia levando em conta a geração de empregos e o desenvolvimento sustentável serão, para os próximos anos, fatores determinantes para o bom desempenho da bolsa de valores no país. A solidez do ajuste fiscal, a forte melhora nas contas externas e, principalmente, a estabilização da inflação e a sinalização de que a inflação vai continuar baixa e estável nos próximos anos manterão o otimismo dos investidores. Cabe aos nossos atuais governantes a responsabilidade de traçar um caminho estratégico para fazer com que essa realidade se concretize.


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