O Brasil, os robôs e as eleições

Posted on 25 de abril de 2018

A tecnologia tem trazido cada vez mais frutos para os seres humanos. Nas últimas décadas, ela tem diminuído distâncias, facilitado processos, colaborado para o desenvolvimento da ciência moderna e, ainda, tornado nossas tarefas cotidianas muito mais práticas.

Mas, ainda que o avanço da tecnologia tenha sido benéfico para a sociedade, não podemos deixar de lado o fato de que toda moeda possui dois lados. Com o recente escândalo de vazamento de dados envolvendo o Facebook e a Cambridge Analytica, os males proporcionados pela tecnologia e, principalmente, pela internet estão em pauta, e o debate acerca da onipresença dessas ferramentas está cada vez mais em alta.

Além do uso indevido de dados pessoais de mais de 50 milhões de usuários, a empresa de marketing Cambridge Analytica atua no direcionamento de propagandas específicas de acordo com a personalidade e o posicionamento dos eleitores, auxiliando na criação de bolhas ideológicas nas redes sociais e fertilizando o terreno para a veiculação das temidas Fake News – notícias falsas, em tradução livre.

A disseminação das Fake News cria um cenário preocupante para as Eleições 2018, em outubro. O uso das redes sociais popularizou uma cultura majoritariamente imagética, onde os textos ficam em segundo plano – o que aumenta ainda mais a divulgação dessas notícias. Mas, um fenômeno peculiar e cada vez mais comum parece ser uma pedra no sapato daqueles que se preocupam com um processo democrático honesto e livre de fraudes: o uso de perfis falsos – chamados bots – programados para realizarem publicações e espalharem mensagens de campanhas eleitorais nas redes sociais.

E o uso indevido das redes sociais por parte desses agentes eleitorais não é um empecilho recente – nem a nação mais poderosa do mundo escapou da gigantesca onda dos bots. Nas eleições presidenciais americanas, realizadas em 2016, foram registrados inúmeros robôs que tuitavam a favor de um candidato, também direcionando suas postagens negativas para o candidato rival ou de oposição, segundo estudos. Essas contas falsas teriam gerado milhões de publicações, e há quem acredite que os impactos que estas publicações causam nas redes sociais são capazes de alterar sensivelmente os números eleitorais.

É válido ressaltar que, embora existam indícios de que esta prática acontece desde as Eleições 2014 no Brasil, a contratação ou ativação de robôs e perfis falsos para fazer campanha política é ilegal. Mas, como quase tudo neste país, as empresas que prestam esse tipo de serviço encontram brechas na legislação para lucrar em cima da ganância dos partidos políticos. Essas empresas vendem para aqueles que estão dispostos a pagar mais, não se importando com a índole e os reais propósitos daqueles que as contratam. Mesmo porque as fortunas gastas originam-se de dinheiro fácil vindos invariavelmente de “jogadas” de negócios fraudulentos e emaranhados na corrupção.

Você deve estar se perguntando: mas a internet é poderosa o suficiente para alterar o resultado de uma eleição? Para termos uma ideia, dados de 2016 apontam a internet como a segunda fonte de informação mais popular do país. 89% dos entrevistados pela Pesquisa Brasileira de Mídia 2016 citaram a internet como local de obtenção de informações mais diversas do que aquelas disponibilizadas pelos veículos mais tradicionais, como os jornais impressos e a televisão. Logo, com a viralização de conteúdos falsos e de caráter partidário, é fácil afirmar que a grande maioria das pessoas que recebem esses conteúdos podem estar sendo influenciadas sem possuírem qualquer noção das intenções e dos procedimentos por trás dos mesmos.

É fato que, com a onipresença da internet e o crescimento do uso das redes sociais no cotidiano do brasileiro, a principal disputa pelo voto do eleitor no ano de 2018 se dará no meio digital. Pensando estrategicamente, não é chegada a hora de os brasileiros utilizarem a rede mundial de computadores para exigirem informação de qualidade e com credibilidade? As tecnologias têm revolucionado cada vez mais a área da Comunicação, e a internet pode, muito bem, servir tanto de canal da informação quanto de arena social para os debates e a troca de experiência. Urge a necessidade de utilizarmos a tecnologia a favor de nossa Nação – ou cairemos, mais uma vez, nos infinitos contos do vigário – mas desta vez, com vigaristas modernos e online.


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