O Brasil e a Cúpula das Américas 2018

Posted on 18 de abril de 2018

A palavra “política” tem despertado nos brasileiros uma repulsa como há muito não se via no país. Não é por menos: os recorrentes escândalos de corrupção que transcendem os três poderes da República e se estendem para as classes empresariais são, de fato, desanimadores, e uma análise profunda sobre a problemática da corrupção sistêmica é capaz de deprimir até mesmo o mais otimista dos patriotas.

Contudo, parece que esse mal não assola apenas o Brasil. Escândalos similares – e até mesmo envolvendo as mesmas companhias – têm ocorrido em países vizinhos, como Peru e Venezuela. Viajando mais alguns milhares de quilômetros ao norte, temos o governo estadunidense, envolvido em investigações federais de fraudes nas eleições presidenciais. Embora a situação do Brasil esteja alcançando níveis cada vez mais caóticos, é válido lembrar que a corrupção – ao contrário do que muitos podem pensar – não foi “inventada” pela classe política e empresarial do país.

Logo, compreende-se que existe uma doença degenerativa dos governos que assola não apenas o Brasil, mas o continente americano como um todo. A falta de diálogo entre as populações e a repulsa provocada pela política tem agravado ainda mais a situação. Pensando nisso, a oitava edição da Cúpula das Américas – que aconteceu no último final de semana em Lima, no Peru – teve como temática central o combate à corrupção no continente.

A Cúpula das Américas é uma reunião regional que reúne os grandes líderes dos governos do continente americano. Criado pelo presidente Bill Clinton em 1994, o evento tem como objetivo o debate sobre os desafios mais urgentes dos países participantes, bem como fortalecer o engajamento nas políticas externas e de comércio internacionais. Há, portanto, uma excelente oportunidade para o debate, para o diálogo e para o fortalecimento das relações internacionais de blocos econômicos como o Nafta e o Mercosul.

Apesar desse caráter de democracia e cooperação da Cúpula, parece que sua mais recente edição serviu como um espelho da crise que assola o continente. Para começar, esta é a primeira vez em oito edições do encontro em que não esteve presente um presidente dos Estados Unidos – país fundador da Cúpula das Américas. Segundo a Casa Branca, Donald Trump optou por permanecer nos EUA e acompanhar as consequências e desdobramentos do recente ataque ao governo sírio, realizado em conjunto com a França e o Reino Unido. Em seu lugar, foram enviados o vice-presidente Mike Pence e a filha do presidente, Ivanka Trump.

Muitos afirmam que a postura de Trump reafirma um descaso do presidente para com as relações entre os EUA e a América Latina, seu principal território de poderio comercial. Além da ausência de Trump, também não esteve presente Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, que tem enfrentado duras críticas sobre seu governo, que tem sido associado a “práticas não democráticas”. Muitos dos líderes presentes, como é o caso de Michel Temer, estão encerrando seus mandatos, o que também pode dificultar o estabelecimento de medidas de combate à corrupção à longo prazo.

Para complementar o cenário de crise, muitos países – assim como o Brasil – tem investido boa parte de seus recursos na contenção de problemas internos, não tendo desenvolvido uma estratégia diplomática para o encontro.

É fato que a prática da corrupção nas esferas governamentais, com o envolvimento das grandes corporações, só enfraquece nossas forças enquanto nação e alimenta o interesse de grupos políticos que tem como foco principal obter vantagens para grupos dominantes do poder. Essa prática assolou toda a América Latina e compromete vários governos no continente – e a falta de posicionamento das populações tem agravado cada vez mais essa situação.

Pensando estrategicamente, chega o momento de superarmos nossa repulsa pela palavra “política” e cobramos nossos líderes para que se posicionem em debates sobre a corrupção e a crise (política e econômica) enfrentada por nosso país. Só assim seremos capazes de recuperar a integridade da nossa nação.


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