Uma startup chamada Brasil

Posted on 2 de maio de 2018

Há 518 anos, comemorados no último 22 de abril, o Brasil era “descoberto”. Nesta data, no ano de 1500, o lendário navegador Pedro Álvares Cabral e sua tripulação, a bordo das caravelas Santa Maria, Pinta e Niña, tiveram o prazer de vislumbrar, pela primeira vez em semanas, terra firme. Dois dias depois, a armada portuguesa desembarcara as margens de Porto Seguro, iniciando o reconhecimento das terras e firmando os primeiros contatos com os nativos habitantes da região. Os acontecimentos que se desenrolaram nos dias subsequentes ficaram marcados na História por meio das palavras de Pero Vaz de Caminha, poeta e escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, responsável por reportar a existência das terras “descobertas” ao rei Dom Manuel I.

Essa é a versão que nos foi contada durante a infância, em nossos primeiros mergulhos neste profundo oceano que é a História do Brasil. Por muito tempo, este recorte da História foi majoritariamente aceito tanto pela população quanto pela academia, mesmo com as inúmeras falhas e equívocos. O primeiro ponto de discussão é, naturalmente, o mais óbvio: como os navegadores portugueses “descobriram” o Brasil se aqui já habitavam uma imensa variedade de povos indígenas, cada um com seus territórios, línguas, costumes e culturas?

Já o segundo ponto de discussão é, talvez, o mais complexo – e o que ilustra com maior facilidade o caos em que o Brasil esteve envolvido desde seus primeiros passos enquanto nação. Essa questão se refere à natureza da suposta “descoberta” do país pelas mãos dos portugueses. A primeira versão dos fatos diz que as caravelas de Pedro Álvares Cabral exploravam uma rota alternativa para as Índias, mas por conta dos ventos, os navegantes perderam o rumo e acabaram nas praias brasileiras. Contudo, versão mais aceita na atualidade afirma que os portugueses, muito antes já tinham ciência das terras brasileiras, tendo enviado, inclusive, expedições anteriores para reconhecimento das terras. Com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 7 de junho de 1494, celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir as terras descobertas e por descobrir por ambas as Coroas fora da Europa, a Coroa portuguesa viu-se obrigada a ocupar e colonizar um maior número de territórios, com o objetivo de estabelecer sua hegemonia e angariar riquezas para Portugal, garantindo os direitos previstos no Tratado.

Sendo assim, a missão de Pedro Álvares Cabral não era nada mais, nada menos que uma tentativa desesperada e desordenada de Portugal em ocupar seus territórios antes relegados a um segundo plano e dar início à exploração de recursos naturais. Parte dos historiadores afirma, ainda, que a expedição possuía natureza privada, sendo financiada pelos Templários, que investiam capital na Escola de Sagres – a famosa escola de engenharia e navegação europeia – com o intuito de expandirem seus investimentos ao redor do globo.

Contudo, à primeira vista, o Brasil parecia apenas uma vasta extensão de terras, povoadas por “selvagens” e sem metais preciosos ou recursos que pudessem ser explorados pela Coroa. Assim, o país é esquecido por aproximadamente 30 anos, e quando Portugal direciona seu olhar para o Brasil – pela própria necessidade –, os colonizadores optam por um sistema que até hoje deixa marcas em nossa sociedade: uma cultura baseada no latifúndio, na monocultura e na utilização da mão de obra escrava.

O abandono inicial do país e o sistema de colonização implantado pela Coroa portuguesa presenteou nossa Nação com centenas de anos de atraso. Ainda hoje, sofremos as consequências da administração casuística que nos foi implantada por Portugal, que sugava nossos recursos na mesma medida em que enfraquecia nosso futuro enquanto Nação.

Pensando estrategicamente, você não concorda que a história da “descoberta”, do desbravamento e desenvolvimento do Brasil não se assemelha fortemente à trajetória de uma startup mal planejada? Os grandes gestores e idealizadores da iniciativa chamada Brasil esqueceram-se, ou melhor, não se deram o menor trabalho de cumprir com as etapas previstas nos processos do lançamento de um empreendimento tão grandioso como é o caso de um país. Negligenciaram desde o primeiro momento, a falta de planejamento estratégico e a inexistência dos planos tático e operacional, essenciais na criação e desenvolvimento de negócios, o que perdura até os dias de hoje, ajudando a transformar o Brasil em um país sem bases sólidas para seu crescimento. Cabe a nós, brasileiros, o fardo de transformar esta startup destinada à falência em um negócio de sucesso. Ainda há tempo, é só querer!


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