Agricultura sustentável e a fome mundial

Posted on 17 de agosto de 2019

Somos convencidos de que a Terra tem plenas condições de atender a demanda por alimentos até o ano de 2050. Porém, nossa atual – e triste – realidade do quadro alimentar mundial demonstra o contrário. O impasse é cada dia mais complexo, uma vez que a dificuldade de produzir comida de forma sustentável segue crescente. Com isto, acumulamos a preocupação de ter uma agricultura que não suprirá a demanda da população daqui a 30 anos.

A luz solar e o oxigênio estão presentes em todas as latitudes e longitudes do globo terrestre, mas as plantações também dependem dos nutrientes do solo e da água, recursos que se esgotam gradativamente. Então, surge a necessidade de uma agricultura com foco na sustentabilidade, dentro de uma perspectiva de reciclagem energética, que visa manter os recursos naturais básicos para os futuros ciclos de produção.

Tais fontes renováveis de produção são defendidas pelos especialistas através do conceito de agricultura sustentável. Ele baseia-se no entendimento do impacto das atividades humanas no meio ambiente a longo prazo e utiliza-se dos avanços científicos para criar sistemas agrícolas integrados. Esses sistemas reduzem a degradação ambiental, mantêm a produtividade agrícola e são economicamente viáveis.

O uso desenfreado de agrotóxicos, o desmatamento de áreas preservadas e a degradação do solo e da água, contribuem para as irreversíveis mudanças climáticas e sufocam a estrutura de modelo sustentável da agricultura. O Brasil ocupa o 13º lugar na lista dos países que mais gastam com agrotóxicos por produção. A atual forma predominante de produção do setor agrícola ameaça o futuro da alimentação e do ecossistema da Terra.

A relação entre comércio agrícola, segurança alimentar e mudanças climáticas é pauta recorrente na mesa dos principais representantes político-econômicos e ambientais, já que a agricultura é a principal responsável pelo abastecimento global de comida e um dos pilares da biodiversidade do planeta. Garantir a segurança alimentar da população nos próximos anos é obrigação e desafio para o setor agrícola.

Segundo José Graziano da Silva, diretor-geral da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), “não haverá futuro sustentável sem erradicar a pobreza e a fome”. Hoje, o número de pessoas que passam fome no mundo chega a 800 milhões. Em contrapartida, pessoas que sofrem com a obesidade e o sobrepeso somam 1,9 bilhão de indivíduos. Nunca se produziu tanta comida e o futuro desta oferta nunca foi tão incerto.

À medida que a população aumenta, o setor agrícola expande a sua produção para atender a demanda por alimentos. O grande revés da agricultura é conseguir aumentar essa oferta com menos impacto ambiental, levando em conta a preservação dos recursos naturais e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, além de incrementar os meios de subsistência nas pequenas propriedades rurais familiares.

O último relatório do Índice de Produtividade Agrícola Global aponta que a produção sustentável de alimentos cresce abaixo da demanda de comida dos habitantes da Terra. Caso esta tendência não seja revertida, o planeta não será capaz de fornecer alimentos, rações, fibras e biocombustíveis, indispensáveis para a sobrevivência da população em crescimento.

De acordo com a FAO, a fome atinge 821 milhões de pessoas no mundo, impulsionada por secas e conflitos. Além dessa parcela cronicamente faminta, 124 milhões de pessoas estão em desnutrição aguda e fome. Para piorar, o aquecimento global já traz efeitos negativos na oferta de bens essenciais. As mudanças climáticas aumentarão os preços das commodities agrícolas.

Pensando estrategicamente… a agricultura tem o desafio de produzir cada vez mais, sem aumentar áreas plantadas, alimentando a população crescente de forma sustentável. O desempenho econômico e o meio ambiente fazem parte dos objetivos da agricultura sustentável. Esta não deixa de valorizar o aspecto econômico, mas entende que precisa resguardar o bem-estar ambiental e social, no presente e no futuro.

O nosso modelo de produção e consumo global é insustentável, e o tripé da sustentabilidade virou uma calamidade. A longo prazo, só o decrescimento populacional poderia garantir o equilíbrio entre as demandas humanas e a saúde dos ecossistemas. Faz-se necessária a criação de uma nova cultura agrícola, com pensamentos ecológicos, sociais e economicamente justos. O equilíbrio de interesses é primordial para a sobrevivência das próximas gerações.


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