O quarto poder e as eleições

Posted on 20 de outubro de 2018

Nossa sociedade é – e sempre foi – regida pelo poder. Desde os primórdios da civilização, tribos utilizavam sistemas de “castas” para definir seus líderes e indivíduos com mais ou menos influência na comunidade. Com a ascensão do capitalismo, essa influência passou a ser definida pelo montante de bens de um cidadão. Séculos depois, vivenciamos o auge deste sistema econômico, com grandes oligarquias exercendo sua influência de maneiras transcontinentais. Com a evolução das civilizações, surgiram os diferentes tipos de Estado, estabelecidos segundo suas respectivas legislações.

Mas, por que falarmos disso? Porque compreender as estruturas de poder é essencial para entendermos nosso atual cenário eleitoral. O poder, derivado do latim “possum”, representa o direito de deliberar, agir, mandar e, dependendo do contexto, exercer sua autoridade, soberania, a posse de um domínio, da influência ou da força. Inúmeras teorias das ciências sociais e aplicadas estão relacionadas ao poder, como a teoria dos jogos, o feminismo, o machismo, os campos simbólicos e muitas outras. Já no campo da política, podemos afirmar que se trata da capacidade de impor algo sem alternativa para desobediência. O poder político, entretanto, não precisa partir de autoridades. Ele também emana de instituições populares, como coletivos, sindicatos, partidos políticos, organizações estudantis e etc.

O Brasil é uma nação republicana, cujo aparelho governamental é instituído a partir dos preceitos do estado democrático de direito. Nossa república é constituída pelos Três Poderes: o Judiciário, o Legislativo e o Executivo. Ao primeiro, cabe o cumprimento da Constituição. Ao Legislativo, cabe a criação, a manutenção e a fiscalização das leis. O Executivo, por sua vez, tem como objetivos o governo propriamente dito e a administração dos interesses públicos. Em tese, os três devem trabalhar em harmonia, fortalecendo o Estado e favorecendo o bem comum.

Entretanto, a evolução das civilizações – principalmente no ramo das tecnologias da comunicação e informação – acabou criando aquilo que chamamos de “quarto poder”: a mídia. A própria expressão já denota a importância da mídia na sociedade atual. Estudiosos do ramo da Comunicação afirmam que ela exerce tanto poder e influência em nossas vidas quanto os Três Poderes nomeados em nosso Estado Democrático. O jornalista Eugênio Bucci, um dos maiores nomes da imprensa nacional, cunhou o termo “Cão de Guarda” para se referir a este fenômeno, argumentando que a imprensa tem realizado este papel mediante a população. Isso acontece porque, em tese, a imprensa brasileira é responsável pela análise, denúncia, investigação da classe política e empresarial do país. Ela, portanto, têm o dever de levar a público os atos ilegais e ilícitos, corruptos e incorretos.

E é durante as eleições que podemos observar de maneira mais explícita a influência do “quarto poder” sobre a agenda pública. Dependendo das diretrizes do veículo, seja ele impresso, audiovisual ou digital, ele possui o poder de selecionar e preparar conteúdos de maneira a favorecer a si própria ou determinados partidos políticos e grupos. Isso ocorre porque, em nosso país, não é incomum que conglomerados midiáticos recebam patrocínios de grandes empresas e personalidades. Alguns afirmam que, de certa maneira, isso desfavorece a democracia, uma vez que a mídia possui uma imensa capacidade de construir e destruir narrativas e personalidades.

Os últimos acontecimentos têm refletido com demasiada fidelidade esta problemática. Infelizmente, boa parte dos brasileiros ainda mantém uma displicente ignorância sobre a gravidade da manipulação midiática. É preciso que pensemos estrategicamente.

É inegável a força do quarto poder no dia-a-dia de uma sociedade, notadamente quando o assunto se refere a algum tema de relevância nacional. Já passa da hora de exigimos de nossos líderes o avanço em legislações de controle social da mídia – que já tem ganhado espaço na maioria dos países democráticos. Os poucos países que não avançaram nesse pantanoso terreno buscam manter os privilégios dos grandes meios de comunicação calçados em decisões importantes para a sociedade. Se você ainda tem alguma dúvida sobre este assunto, apenas imagine um setor qualquer da economia brasileira que nunca foi regulado e sempre teve autonomia total, muitas vezes acima do próprio Estado e da própria Constituição, utilizando-a para conseguir manipular o poder político e a opinião popular em benefício de determinados grupos. Isso não te soa como uma ameaça à nossa democracia? Pensar estrategicamente é, também, começar a analisar de maneira crítica os conteúdos que nos são oferecidos por todos os canais.


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