Voto: o exercício da cidadania!

Posted on 13 de outubro de 2018

No último domingo (7), o Brasil foi às urnas para exercer, talvez, nosso maior direito e dever, paradoxalmente: o voto. Através dele, elegemos 1.626 parlamentares para as Assembleias Legislativas e Distritais, a Câmara dos Deputados e o Senado. No âmbito executivo, elegemos 14 governadores nos mais diversos estados do país – o restante aguarda a realização do segundo turno para o resultado final. Também por meio do voto elegeremos, no próximo dia 28, o presidente da república. Mais que uma simples escolha entre X e Y, trata-se de escolher o plano de governo que vingará sob a nossa Nação pelos próximos quatro anos.

Sim, meus caros: o voto é muito mais complexo do que imagina o nosso vão senso comum. Ele é uma maneira singular de demonstrarmos nossas opiniões, vontades ou preferências. A votação, por sua vez, é um processo comunal de decisão: nela, há um conjunto com opções determinadas e o eleitor escolhe uma delas – ao final do processo, a opção vencedora é aquela que obtiver a maioria dos votos individuais.

Além disso, podemos considerar o voto um privilégio, afinal, quase 50% da população mundial não possui esse direito que, para nós, parece tão fundamental. Mesmo nos Estados Unidos, país considerado por muitos o protagonista da luta pela liberdade e autonomia de seus cidadãos, ainda havia, no século XIX, a resistência nas classes dominantes para ampliar a participação popular nas eleições. Mulheres, negros, populações indígenas e analfabetos lutaram – e ainda lutam – pelo sufrágio universal ao redor do mundo.

O voto teve suas origens de maneira conjunta à democracia, que nasceu na Grécia Antiga, mais especificamente em Atenas. Em nossa nação tupiniquim, os processos eleitorais se deram ainda nos tempos de colônia, quando os portugueses que aqui residiam realizavam votações para acordar os governantes das vilas e cidades existentes até então – e, segundo historiadores, nesta época apenas uma pequena parcela da população detinha o privilégio de votar e ser votado. Eram os chamados “homens bons”, sujeitos livres, brancos, possuíam terras e escravos e eram casados com mulheres nas mesmas condições.

Hoje, vivemos em um mundo quase integralmente capitalista e globalizado. A democracia, principalmente nas nações ocidentais, alcançou níveis de maturidade distintos, e o sufrágio universal está cada vez mais próximo da realidade. No mundo moderno, um país em regime democrático tem como premissa principal a existência de um corpo eleitoral periodicamente renovado e de um eleitorado composto por aqueles que têm direito de votar. Uma das bases da democracia é a representação política, e ela não se faz presente sem a eleição. Paradoxalmente, a representatividade não existe sem o exercício do voto consciente, ou seja, um voto estratégico, pensado e analisado.

O voto consciente se faz necessário para o funcionamento de nosso aparato político e burocrático, uma vez que a ausência de consciência e responsabilidade faz com que nosso voto torne-se um mero instrumento no “jogo político” de nossos líderes –  que fazem com que a fragmentação partidária, os sentimentos exaltados e o personalismo exacerbado se sobressaiam às necessidades do povo e do País. Para exerce-lo, portanto, é preciso conhecer nosso sistema eleitoral e os preceitos da democracia representativa.

Muitas pessoas, por exemplo, insistem em acreditar que votos nulos, brancos e abstenções são capazes de anular a eleição. É comum presenciarmos, em ano de eleição, boatos e “correntes” na internet conclamando os eleitores a não comparecerem à votação ou a votarem em branco ou nulo. Acredita-se, erroneamente, que se esses votos perfizerem número maior que a metade do número de eleitores, as eleições serão declaradas nulas e novas eleições serão convocadas, com outros candidatos. Há, também, a crença infundada de que esse tipo de voto conta, de alguma forma, para o candidato ou legenda que soma maior número de votos recebidos. Os resultados destas “fake news” têm sido catastróficos: as Eleições 2018 obtiveram a maior abstenção em duas décadas, com 30 milhões de brasileiros abandonando o processo democrático.

É claro que, além das fake news, a descrença com a política atual e com o Estado enquanto instituição têm crescido nos últimos anos, com os intensos escândalos de corrupção que chegaram à opinião pública. Mas, olhando por ambas as perspectivas, o fato é que os quase 20% de abstenções demonstram a inconsciência do brasileiro em relação à sua força como agente de mudança.

Pensando estrategicamente, é tempo de agir! É inegável que nossa omissão diante dos absurdos ocorridos em nosso aparelho político e burocrático – que deveria ser a nossa maior segurança – levou-nos ao estado de descontrole no qual nos encontramos atualmente. Urge a conscientização de que a política não deve ser “posse” dos engravatados, afinal, nossa vida é regida por ela.

Felizmente, além de ter um grande apreço pela área, sempre me interessei por ela – o que não acontece com muitos dos brasileiros, que acabam pagando o preço de ser dominado por aqueles que amam e se beneficiam da política que deveria pertencer ao povo. Compreendemos a descrença com o sistema, afinal, existem incontáveis “políticos” corruptos, mas… cabe a nós, cidadãos no exercício pleno de nossos direitos, escolhermos e fiscalizarmos nossos representantes – isto é fazer política!

Por tudo isso, não à abstenção! Não ao voto em branco e não ao voto nulo! Não deixemos que o pensamento de antigos filósofos se faça valer em nossa sociedade: “O castigo dos bons que não fazem política é ser governados pelos maus”.


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