Existem três bons negócios no Brasil…

Posted on 16 de julho de 2018

Em tempos de crise e insegurança financeira, o empreendedorismo e as startups estão se posicionando como excelentes saídas para indivíduos que desejam ser donos de seus próprios negócios. Nesse contexto, surgem pesquisas, estudos, levantamentos e análises sobre os produtos e atividades que ocupam o status de “mais rentáveis” em território brasileiro. Todos querem saber onde investirem seu tempo e dinheiro.

Entretanto, existe, no meio empresarial, uma “fórmula” da obtenção de lucro no Brasil: tendo um banco bem administrado, um banco razoavelmente administrado ou mesmo um banco mal administrado. Qualquer que seja a circunstância, a atividade bancária tem um gigantesco potencial de lucro em nosso país – mesmo em momentos de crise econômica, como é o nosso caso atual. O setor bancário parece ser o único que não é drasticamente afetado pela instabilidade na economia nacional e segue obtendo lucros surpreendentes.

Ainda que se trate da atividade empresarial mais rentável da atualidade, muitas pessoas ainda não compreendem ao certo quais as principais características ou no que consiste a atividade bancária. Em essência, os bancos são responsáveis pela mercantilização do crédito, que acontece dentro do Sistema Financeiro Nacional, que regula a atividade bancária e os serviços prestados pelos bancos, como as operações de custódia e administração de bens, compra e venda de bens, realização de pagamentos e tributos e transferências de numerário.

Inserida no cenário financeiro do Brasil encontra-se a problemática dos juros altos, que assombram a vida financeira de boa parte dos brasileiros. Essa alta é resultado de uma combinação de fatores, como o déficit do Governo Federal, a alta concentração bancária e a inadimplência entre consumidores. Desde a crise financeira que quebrou inúmeras instituições no ano de 2008, as taxas de juros ao redor do mundo se encontram em um estado excepcional de baixas – com exceção do Brasil, cujas taxas continuam altas mesmo depois de sucessivas reduções. Além disso, o país ainda sofre com um paradoxo na questão dos juros: apesar de uma redução na taxa Selic representar um estímulo na economia (uma vez que juros menores barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo), sua alta faz com que o Banco Central segure o excesso de demanda que pressiona os preços (já que os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança). Assim, a redução dos juros incentiva a produção e o consumo, mas, por outro lado, enfraquece o controle da inflação.

Desta forma, a alta dos juros favorece a especulação e os prospectos dos lucros bancários, em virtude do afastamento do empresariado da atividade produtiva e a subsequente aproximação desta classe aos investimentos no mercado financeiro. Sua redução, contudo, é um processo complexo e que envolve outras problemáticas da economia brasileira, como a inflação e as contas públicas. Este cenário justifica o descompasso existente entre os crescimentos da economia e do lucro dos bancos – para se ter uma ideia, o lucro líquido das quatro maiores instituições financeiras do país (Itaú, Banco do Brasil, Bradesco e Santander) somou 50,29 bilhões em 2016, ano em que a crise política e econômica brasileira atingiu o seu auge. No ano anterior, quando a economia já havia retraído 3,8%, esses bancos lucraram 62 bilhões de reais.

Os números assustam, principalmente quando contrastados com índices socioeconômicos como o IDH e o Índice de Gini – que mede a desigualdade social existente nos países. Enquanto o desemprego cresce e o PIB per capita sofre para retomar os níveis alcançados nos anos 2010, essas instituições bilionárias seguem obtendo lucros estratosféricos – e nossos líderes não parecem estar preocupados em inverterem ou, no mínimo, equilibrarem esta situação dramática para o povo brasileiro. Apesar da redução na taxa básica de juros estar em seu patamar mais baixo nos últimos anos, a atividade econômica continua dando sinais de desaceleração.

Pensando estrategicamente, é natural e necessário refletirmos sobre a lenda dos três negócios mais lucrativos no Brasil. O sistema financeiro do nosso país é o grande beneficiário de uma política de desenvolvimento econômico equivocada, onde as prioridades estão direcionadas para “privilegiar os mais ricos” – vale ressaltar que quase 30% da renda do Brasil se encontra nas mãos de apenas 1% dos habitantes do país, como indica a Pesquisa Desigualdade Mundial 2018. Com a aproximação das Eleições 2018, chega o momento de cobrarmos de nossos candidatos o estabelecimento de planos e metas que promovam um crescimento mais equilibrado.

Não somos contra o fato dos bancos lucrarem, mas a partir do momento em que esses lucros representam a morte do setor produtivo, empobrecendo e inviabilizando a economia do país, ou o Brasil limita a taxa de juros ou jamais nos libertaremos deste círculo vicioso que tem impedido o nosso desenvolvimento.


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