Nosso futuro político: olhando para o passado

Posted on 12 de julho de 2018

A Copa do mundo se aproxima de sua reta final. Com o encerramento do torneio no dia 15 de julho, a atenção do brasileiro começa a se dirigir para a última grande pauta de 2018: as eleições. Em meio ao cenário caótico experimentado pelo Brasil nos últimos anos, chega o momento de encararmos de frente a pergunta que nos assombra em tempos de eleição: como serão, politicamente, os próximos quatro anos para o Brasil?

  Entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2010, nosso sistema político viveu um momento de relativas estabilidade e previsibilidade. Mas, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a subsequente crise política e institucional que vigorou no país e ainda demonstra seus reflexos, o ano de 2018 chegou com ares de mudanças, como os sinais de recuperação da economia e a promessa de renovação nas urnas nas próximas eleições. Entretanto, a inércia no cenário político tem demonstrado certa expressividade, o que deve ser motivo de preocupação para os brasileiros.

O governo de Michel Temer se mostrou ineficiente em seus dois anos de vigência, mesmo contando com um forte apoio do mercado e uma gigantesca e poderosa base aliada no poder legislativo. Já no primeiro ano de governo, o presidente então interino anunciou seu gabinete composto majoritariamente por figuras investigadas na Operação Lava Jato, colegas de partido e apoiadores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Logo no início, um dos principais ministros de Temer, Romero Jucá, foi destituído do cargo após o vazamento de uma gravação comprometedora, na qual, em um português claro, ele sugeria alternativas para derrubar os esforços até então desenvolvidos pela Operação Lava Jato.

Apesar disso, é necessário ressaltar os frutos colhidos pelo atual governo, como a retomada do crescimento do PIB, a redução da inflação, a queda nos juros, a manutenção das reservas internacionais e a reforma nas leis trabalhistas. Enquanto tudo parecia caminhar para a normalidade, veio à tona o episódio do assessor, saindo correndo de um restaurante no centro de São Paulo, como se chegasse de uma viagem, arrastando uma mala de viagem carregada com dinheiro. Como se não bastasse tudo isso, houve o episódio da denuncia do Presidente da JBS e a reforma da casa da filha do Presidente. A mais recente crise enfrentada pelo governo Temer funcionou como uma pá de cal nas suas pretensões: o episódio da Greve dos Caminhoneiros, quando a falta de popularidade do presidente se refletiu na incapacidade de gestão de crise, bem como de negociação com os grevistas.

Isso gerou um cenário de insegurança no eleitorado, que além de não enxergar uma continuidade para o governo atual, tem suas opções cada vez mais limitadas: ex-líderes sendo investigados e até mesmo presos por crimes de corrupção, nomes pouco consolidados na política nacional se lançando à presidência, a ágora pública sendo prejudicada pelo “nós contra eles”. O medo e a desconfiança são as palavras de ordem enquanto a economia se recupera lentamente e a década pós-2011 é considerada “perdida” por boa parte dos economistas.

Há pouco menos de quatro meses da eleição, chega o momento de nos perguntarmos se estamos, de fato, em condições de elegermos líderes que estejam aptos e dispostos a comandarem o Brasil com olhos para o futuro? Olhando para nossa atual situação política e econômica, é óbvio que ainda estamos longe de resolver as problemáticas levantadas até o momento.

Pensando estrategicamente, é natural refletirmos sobre a frase de um dos maiores escritores brasileiros, Pedro Nava: “A experiência é um carro com os faróis voltados para trás”. Ao afirmar que a sua experiência não lhe servia para nada, podemos toma-lo como exemplo para os próximos meses: não valeria a pena voltarmos os faróis do “nosso carro” chamado Brasil, para a frente? Quem sabe assim, passaríamos a nos preocuparmos menos com os buracos nos quais já caímos e passaríamos a enxerga-los apenas como aprendizados para enfrentarmos os buracos que estão pela frente. Uma alternativa viável e necessária para começarmos a reconstrução desse país, com os “cacos” que ainda nos restam.


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