O Brasil está sangrando

Posted on 7 de junho de 2018

Nos últimos dias, pudemos experimentar o caos como há muito não foi possível no Brasil: a paralisação dos caminhoneiros ao redor do país foi suficiente para lançar-nos numa situação que deixou transparecer, mais uma vez, a incompetência de nossos líderes e a fragilidade do sistema político e econômico no qual estamos inseridos. A greve chegou ao fim e, enquanto o cenário vai, aos poucos, se acalmando, o brasileiro já começa a se preparar para a Copa do Mundo, o evento que faz com que todo o país se esqueça dos absurdos que acontecem em Brasília. Quando, na verdade, o momento é propício para que a população comece a levantar o seguinte questionamento: afinal, o que está acontecendo com o Brasil?

É inevitável a admissão de que a economia brasileira sofreu grandes e profundos impactos com a Greve dos Caminhoneiros – que não é nada mais, nada menos quemais um dos episódios que refletem problemas econômicos como a inflação resistente, os riscos de rebaixamento do rating soberano, o aumento nas taxas de juros, a desvalorização da moeda nacional, gastos públicos desenfreados… mas, mais do que isso, as maiores preocupações emergentes desta situação estão relacionadas aos fatores políticos e sociais existentes no Brasil. Será que os últimos acontecimentos da crise econômica e política que afetam nosso país significam nosso fracasso enquanto emergentes?

É na crise que surgem os ratos que saem dos bueiros – ainda mais quando ela se dá em ano eleitoral. Com a população ensandecida pelos problemas econômicos e pela queda nos índices sociais, iniciam-se as promessas sem fundamento e a criação de figuras míticas que se colocam como os “salvadores da pátria”. Conhecedores exímios da paixão do brasileiro pelas soluções fáceis e rápidas e por discursos bem colocados e apelativos, os “ratos” já estão à espreita, com as palavras devidamente escolhidas e colocadas para enganar os incautos, prontos para serem seduzidos e enfiados em promessas de soluções milagrosas para todos os seus problemas. Um fator que agrava esta complexa situação é a paciência do cidadão, que parece estar se esgotando cada vez mais rápido.

Com os avanços socioeconômicos acontecidos nos últimos 25 anos – que se iniciaram com a Constituição de 1988 e se decorreram com a implementação do Plano Real e de políticas públicas que favoreciam a renda e o consumo, permitindo uma maior mobilidade social na sociedade brasileira –, o brasileiro aumentou sua qualidade de vida e seu poder de compra, passando cada vez mais a olhar apenas para si e esquecendo-se do todo à sua volta, criando um terreno fértil para a corrupção que se alastrou por todo o nosso aparelho político e burocrático e que, atualmente, empaca o desenvolvimento do país e restringe os direitos adquiridos por milhões de brasileiros nas últimas duas décadas.

A crise política e o caos social instalados pela Greve dos Caminhoneiros são mais dois sinais irrefutáveis de que as coisas precisam mudar, mas que essas mudanças só se darão por meio de um firme processo de conscientização dos brasileiros, que precisam enxergar em seus votos individuais a expressão de uma estratégia de desenvolvimento do Brasil enquanto nação. Mais do que soluções milagrosas, o brasileiro precisa almejar políticas públicas expressas em conjuntos de metas, instrumentos e responsabilidades. Essa conscientização é essencial para exigirmos de nossos líderes eleitos uma estratégia de desenvolvimento que melhore a qualidade da gestão e a eficiência dos gastos em benefício de toda a sociedade.

 Pensando estrategicamente, é inegável que conquistamos muitos benefícios nas últimas décadas de nossa história, mas o custo social dessa transição para a democracia foram processos longos e não planejados com muita certeza por nossos líderes. Nesse conturbadoperíodo, o Brasil não foi capaz de solucionar seus próprios problemas econômicos e sociais. Em outras palavras, o regime político no Brasil é democrático, mas graças ao pensamento dominante da população – que só olha para o próprio umbigo –, a democracia está muito longe de se consolidar. Como os novos governos democráticos têm se mostrado incapazes de superar os problemas econômicos e sociais existentes, surgiu uma nova crise política. Será que ela tem solução ou precisaremos reprisar nossa história?Até quando continuaremos a sangrar?


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