O ‘Conto do Vigário’ e as Eleições em 2018

Posted on 17 de janeiro de 2018

Se você é brasileiro ou vive por aqui há muito tempo, já deve ter ouvido ou mesmo dito a expressão “cair no conto do vigário”. Este dito popular é muito utilizado para denotar situações em que alguém é enganado ou ludibriado e, por conta disso, acaba se encontrando em uma situação desfavorável e até mesmo ridícula.

Apesar do largo uso da expressão, poucos de nós sabemos de fato do que se trata o tal conto que há séculos tem difamado toda uma classe religiosa – tendo cunhado, ainda, o termo “vigarista”. Historiadores e linguistas relatam dois episódios que podem ter originado o termo.

O primeiro relata a história de uma disputa entre duas paróquias de Minas Gerais por uma mesma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Para selar o impasse, o vigário de uma das igrejas sugeriu uma solução supostamente imparcial: um jumento amarrado à tal imagem seria solto na metade do caminho entre as duas paróquias e o lugar para onde ele se direcionasse teria a posse definitiva do santo objeto. No fim das contas, evidentemente, uma das paróquias venceu a disputa.

Mas a história não se encerra sem um “toque” de brasilidade. Dias depois, descobriu-se que o jumento em questão pertencia ao vigário da igreja vencedora e, por isso, encaminhou-se diretamente para ela.

Já o segundo episódio é oriundo das terras além-mar, cortesia dos nossos caros amigos de Portugal. A origem lusitana para o termo é derivada de um golpe muito comum no país durante o século XIX. Os golpistas viajavam de cidade em cidade e, ao se instalarem nas localidades, se apresentavam como “emissários do vigário”, afirmando estar de posse de uma mala cheia de dinheiro e que precisariam deixa-la para seguir viagem por conta do peso. Como garantia de que recobrariam a mala com seu valor integral, eles requisitavam dos moradores locais uma porcentagem do suposto valor do conteúdo e então seguiam viagem. É claro que, como uma boa história de vigaristas, ela não se encerra sem uma bela trapaça: os “emissários do vigário” seguiam viagem e jamais retornavam, e quando a população finalmente decidia abrir a pesada maleta, descobriam bugigangas e outros objetos muito pesados e sem valor.

Qualquer semelhança com a nossa realidade pode ou não ser mera coincidência. Nosso país sempre esteve repleto de contos do vigário: histórias contadas por golpistas e estelionatários com o intuito de levar vantagem em cima da inocência e da presunção de terceiros. E esta é uma prática tão corriqueira no cotidiano da população brasileira que, infelizmente, se alastra para o nosso cenário político. Isso porque, por mais que isso nos machuque o ego, é fato que a classe política não é nada mais que um reflexo da nossa sociedade – afinal, nós elegemos aquelas pessoas para seus respectivos cargos.

Com os inúmeros casos de corrupção que chegaram a público nos últimos 15 anos, vivemos uma situação onde os envolvidos – e também os que sabiam dos “esquemas”, mas, por medo ou conivência, optaram pela “vista grossa” – precisam se redimir perante os olhos do eleitorado para lançarem suas candidaturas para as Eleições em 2018. E, então, é chegada a época em que os contos do vigário ficam cada vez mais populares: são justificativas absurdas, desculpas esfarrapadas e, é claro, promessas sem fundamento – tudo pelo seu voto. Ainda nesse contexto, teremos os vigaristas que, tendo como base a crise política, construirão suas campanhas em cima da imagem de “salvador da pátria”, colocando-se na posição de heróis que, se eleitos, darão um fim à corrupção no Brasil e a todos os males que assolam o país.

Tendo em vista essa situação caótica e desonesta pela qual passamos, urge a necessidade de pensarmos estrategicamente. Não nos façamos de espertos, pensando que “estamos por cima”, como dizem por aí! Apesar de possuirmos, em nossas mãos, a maior arma da democracia (o voto), não podemos nos seduzir pelos contos do vigário, pelas promessas fáceis e discursos vomitados feitos pelos políticos em épocas de eleições. Enquanto caminhamos para as urnas para a entrega de nossos destinos, os “vigaristas” preparam seus jumentos e suas maletas com bugigangas para, mais uma vez, ludibriar os incautos que acreditam em tudo.


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