Como será o profissional da indústria 4.0?

Posted on 9 de junho de 2016

A união da chamada internet das coisas com a rápida automatização desenha um novo cenário dentro das fábricas de todo o mundo. A indústria 4.0, ou manufatura avançada, deve revolucionar as linhas de montagem e gerar produtos inovadores e customizados em um futuro próximo. Com robôs cada vez mais participativos no processo, mudará também o perfil do profissional que as indústrias procuram.

Uma pesquisa da consultoria Roland Berger estimou a escassez de mais de 200 milhões de trabalhadores qualificados no mundo, nos próximos 20 anos. Um dos motivos que contribuem para esse cenário é a necessidade de cada vez mais mão de obra qualificada. Técnicos deixarão de exercer funções repetitivas, como o encaixe de uma peça em um smartphone, por exemplo. Isso não significa, porém, que os funcionários serão eliminados das linhas de produção. Eles ficarão concentrados em tarefas estratégicas e no controle de projetos.

Mas qual será o impacto dessa mudança na vida dos profissionais? Para responder a essa questão, é preciso analisar o mercado alemão, onde a quarta revolução industrial está mais avançada. Estimativa do Boston Consulting Group (BCG) indica que o número de empregos deve aumentar 6% nos próximos dez anos. A demanda por funcionários no setor de engenharia mecânica deve subir ainda mais, cerca de 10%. A expectativa geral é que sejam criados 960 mil postos de trabalho, principalmente nas áreas de TI e de desenvolvimento de software.

A tendência é que o número de pessoas com alta qualificação aumente no mercado. “O papel do líder, por exemplo, passa a ser ainda mais importante. Em vez de controlar as horas de produção, ele alinhará as tarefas e fará a equipe trabalhar unida”, afirma Eduardo de Senzi Zancul, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Apesar de o Brasil ainda caminhar a passos lentos rumo à indústria 4.0, o tema já desperta muito interesse por aqui. “A manufatura avançada representa um renascimento da indústria. Os jovens em formação gostam de novidades, e as fábricas voltarão a ter um ambiente desafiador. O que vejo nos alunos é um interesse crescente em entender essa convergência entre informação, TI, eletrônica e hardware”, diz o professor Zancul.

Quem quer conquistar espaço nas fábricas do futuro deverá desenvolver novas habilidades. Será preciso, por exemplo, aprender a trabalhar lado a lado com robôs colaborativos para aumentar a produtividade. Isso gera espaço para exercer funções mais complexas e criativas. O profissional não será responsável apenas por exercer uma parte específica da linha de montagem, mas por todo o processo produtivo.

É preciso estar aberto a mudanças, ter flexibilidade para se adaptar às novas funções e se habituar a uma aprendizagem multidisciplinar contínua. “É muito importante ter uma visão ampla. E é nesse ponto que os profissionais já estão em falta”, afirma Gabriel Almeida, gerente de engenharia e logística da empresa de recrutamento Talenses.

Ter uma visão multidisciplinar não significa que o conhecimento técnico perdeu importância no currículo. Uma formação acadêmica em engenharia da computação ou mecatrônica é importante, mas não é o suficiente. “As competências aprendidas em uma graduação valem por cada vez menos tempo. Técnica você aprende, mas atitude é algo intrínseco”, diz Ivar Berntz, sócio-líder do setor automotivo da consultoria Deloitte. Gabriel Almeida, da Talenses, concorda: “É preciso se especializar em diversas frentes e conhecer um pouco de cada coisa. Tem que gostar de tecnologia, de inovação e, principalmente, ter curiosidade para aprender e acompanhar uma indústria que sempre se reinventa”.

Especialistas mapearam ainda a possibilidade de surgimento de duas novas profissões ligadas à indústria digital: a de cientista de dados industriais, responsável por análises avançadas de dados, e a de coordenador de robótica, profissional que deverá interagir com os robôs no chão de fábrica.


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