BRASIL: NA GANGORRA DAS INCERTEZAS

Posted on 3 de novembro de 2022

Conforme era esperado, Lula ganhou a eleição para a presidência do Brasil mais uma vez, se tornando a primeira pessoa na história a vencer três embates do tipo. Ao longo dos próximos dias, os ativos brasileiros deverão repercutir a vitória do petista, que muito provavelmente não será nenhuma lua de mel. É aguardar para ver os próximos lances no tabuleiro da política institucional. 

O pregão sinaliza interessante sobre alocação de recursos. Em meio ao processo de venda forte verificado sobre as estatais federais, parte dos recursos foram reposicionados em outros nomes do mercado brasileiro, que ainda está muito barato e relativamente atrativo. Com isso, o Ibovespa e outros índices locais finalizaram o dia em tom positivo. O fluxo estrangeiro, aliás, também pode ser um dos fatores que justificam o movimento, uma vez que o nome de Lula parece soar melhor aos ouvidos do investidor estrangeiro, em um movimento, ainda que de curto prazo, de queda do dólar e alta das ações (empresas ligadas à economia doméstica). 

É possível argumentar que parte do mercado esteja dando o benefício da dúvida ao futuro governo Lula, por mais incerto que isso seja agora. Uma eventual nomeação de equipe de transição mais ao centro e moderada poderia cair bem aos olhos do mercado, bem como a indicação de um nome político ou associado ao Henrique Meirelles (como perfil mais rígido com os excessos de gasto), sabemos que um dos calcanhares de Aquiles do país é o risco fiscal e a possibilidade, mesmo que diluída hoje, de dominância fiscal. Precisamos esperar as informações oficiais do governo, ainda que interlocutores afirmem que o nome já tenha sido escolhido. 

Não cabe comentar, pelo menos por enquanto, as manifestações que bloqueiam algumas estradas pelo Brasil, as quais me parecem ser mais um ruído momentâneo no aguardo da fala do presidente Bolsonaro, que se manifestou sobre as eleições na tarde de terça (01), pedindo aos caminhoneiros que desobstruíssem as pistas das estradas. De qualquer forma, o ministro Alexandre de Moraes já determinou a imediata desobstrução de bloqueios. Caso haja uma piora do quadro, o mercado poderá até repercutir na margem, mas acredito que o foco seja o anúncio da equipe de transição. Há também espaço para ajustes de posição hoje, muito por conta do feriado de amanhã, que fecha o mercado local. Esta é também a opinião de vários analistas.

Reflitam comigo: os mercados asiáticos conseguiram sustentar um tom predominantemente positivo na segunda-feira (31), acompanhando as movimentações de Wall Street na sexta-feira (28), com os investidores permanecendo otimistas com o entendimento de que o Fed diminuirá o ritmo dos aumentos das taxas de juros nos próximos meses.

A Europa e os futuros americanos, por seus lados, não conseguem manter o bom humor, apresentando um desempenho um pouco incerto nesta manhã. O Brasil, como falamos, deverá se descolar de qualquer realidade internacional.

Na Europa, o BCE elevou sua taxa de depósito mais uma vez.  Segundo os analistas, exportadores terão um melhor risco X retorno acima dos R$5,270 ou após um sólido rompimento e defesa da resistência dos R$5,395. Importadores devem aguardar por claros sinais de exaustão ou um sólido rompimento negativo nos R$5,270.

Os próximos 4 anos serão de disputa e tensão política – Lá fora, as ADRs (American Depositary Receipt), brasileiras caem em NY na manhã de segunda (31), em especial as estatais, como a Petrobras, sinalizando uma segunda-feira muito difícil pela frente. Como era esperado, Lula venceu a eleição e agora tem quatro anos muito difíceis pela frente, devendo governar um país dividido e sem muito espaço para radicalização, uma vez que o Congresso é predominantemente de centro-direita. Neste contexto, a promessa de uma frente ampla deverá ser mantida se Lula quiser entregar alguma coisa. Apesar de parecer com o passado, o futuro brasileiro promete ser diferente.

É natural que os mercados não estejam acostumados a lidar bem com eleições apertadas, principalmente porque falamos da eleição mais apertada da histórica da Nova República (50,9% versus 49,1%). A situação atual, porém, é de que a rejeição a Bolsonaro conseguiu ser maior do que a de Lula e a do PT, que diluiu a presença do partido conciliando outras figuras como Geraldo Alckmin, Marina Silva, Simone Tebet e os economistas do Plano Real. Nos próximos dias, o mercado acompanhará maior materialidade do futuro governo, com nomes para ministérios e projetos. 

O mercado parece ainda muito ansioso, sem entender que os aumentos dos juros vão continuar e o patamar será elevado por bastante tempo. Fora a questão monetária, ainda teremos mais resultados corporativos. Cerca de 160 empresas do S&P 500 devem apresentar relatórios nesta semana. Destaque para empresas como Airbnb, Advanced Micro Devices, BP, Marathon Petroleum, Pfizer, Uber Technologies, Booking, CVS Health, eBay, Moderna, PayPal e Starbucks. Dados de emprego também são esperados para a sexta-feira e podem nortear a direção do mercado em relação à política monetária.

Pensando estrategicamente:  Após uma semana de extrema tensão, o dólar fechou ontem (31) em baixa de -2,59% e hoje (01) de -0,92. Como não houve caos e tumulto após a eleição, a moeda norte-americana reage negativamente a diminuição dos riscos relacionados a contestação do resultado nas eleições. Agora, o novo foco do câmbio é a pasta econômica, principalmente em relação as regras fiscais do país.

A ata do Copom sinaliza que os nossos juros continuam bastante atrativos. Nos EUA, há expectativa de aumento dos juros em 0,75%, levando a uma faixa de 3,75% e 4,00%. A decisão será anunciada amanhã. Após o anúncio, Jerome Powell nos trará mais informações sobre o futuro da economia estadunidense.

A inflação nos EUA ainda continua alta. O IPC apresentou alta de 0,4% no mês de setembro, chegando a 8,2% em 12 meses. O PIB dos Estados Unidos subiu 2,6% no terceiro trimestre, diminuindo temores de recessão.

Segundo os analistas, exportadores terão um cenário ideal após o rompimento dos R$5,315. Importadores devem aguardar um SÓLIDO rompimento dos R$5,180.


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