OS DILEMAS DA SUCESSÃO NAS EMPRESAS FAMILIARES

Posted on 7 de julho de 2022

Embora ocorra de geração em geração, não é em todos os casos que o processo sucessório acontece de maneira bem-sucedida nas empresas familiares.  Muitas vezes, esse processo é interrompido devido a conflitos existentes ou apenas como estratégia. Conforme o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), apenas 30% das corporações familiares passam para a segunda geração e somente 5% para a terceira.

A fase mais séria do processo sucessório, geralmente, está relacionada à necessidade de planejamento e profissionalização, visando o sucesso. Além disso, o sucessor precisa do auxílio do seu antecessor bem como do assentimento dos outros entes da família.

No que se refere às organizações familiares, a ética é considerada como um fator sensível, visto que a cultura da entidade está fortemente relacionada aos hábitos, ao perfil e ao modo de vida da família proprietária.

No cenário destas organizações, alguns impasses relacionados à ética são geralmente característicos. Como exemplo, uma questão enfrentada por muitas entidades familiares, surge quando um ente da família concorre a uma vaga com outra pessoa com mais qualificação, mas que não possui vínculo familiar com os proprietários. Por um lado, há o conceito, possivelmente equivocado, de que se deve dar preferência aos familiares. Por outro, há a consciência de que o outro concorrente possui mais preparo, contudo está à mercê do mercado.  

Nessa situação, observa-se que não há uma escolha exata. Em alguns casos, as tomadas de decisões não seguem alinhadamente o plano estratégico da empresa, posto que o quesito de parentesco pode ser considerado e ter mais peso. Em circunstâncias mais complexas, com a exigência de tomada de decisões mais criteriosas, é preciso não apenas a capacidade racional e cartesiana de enfrentar um conflito, mas também a habilidade de visualizar de maneira heurística, sem a racionalidade.

Reflitam comigo: A deficiência no que se refere ao planejamento da sucessão do negócio, é outro agravante que surge nas entidades familiares. Pesquisas recentes apontam que, em geral, 55% das empresas familiares não possuem planejamento sucessório e apenas 81% não contêm programa de capacitação das novas gerações. Segundo LEITÃO o conflito persistente, nesse caso, diz respeito à garantia da continuidade da sociedade empresarial em que profissionalismo e respeito sejam constantemente adotados. 

Ward, diretor do Centro de Empreendimento da Lellog of Scholl of Management (Escola de Negócios da Universidade Northwestern – Chicago/USA), afirma que as entidades familiares, por característica natural, tendem a gerar conflitos de caráter emocional, que, mais precisamente, são paradoxos.

Sobre esse assunto, LEITÃO afirma que uma comunicação aberta, direta e verdadeira, deve acontecer, evitando assim algumas incoerências que podem ser detectadas com maior percepção, devendo ser solucionadas. Há paradoxos mais complicados que devem ser apenas gerenciados. Por exemplo, para um pai, um paradoxo a ser gerido é o de ter seus filhos próximos ou distantes, tendo em vista que ele não pode simplesmente decidir pela saída dos filhos de casa ou optar pelo amadurecimento deles. Nesta situação, é mais viável concordar que de fato o paradoxo que perdura é conviver com a ambiguidade e apreensão.

É notório o dilema que comumente se evidencia ao se tratar do planejamento da sucessão em empresas familiares. Mesmo o líder tendo consciência de que dele se espera uma conduta séria e sapiente no que tange à permanência do negócio, ele é, da mesma maneira, defrontado com os seus próprios problemas, anseios e temores referentes ao tema e conclui que abdicar do seu papel na organização é mais complexo do que se calculava.

Ao adiar, de forma não definida, a sucessão do poder e sua aposentadoria, de acordo com os pesquisadores, o patriarca tenta fugir do dilema integridade versus desespero. Geralmente, age como se estivesse brigando para sobreviver, dessa forma, o filho que seria o sucessor pode ser percebido pelo pai como uma ameaça ao seu status. Os sucessores passam por dilemas semelhantes, pois, da mesma forma como ocorre com o patriarca, o sucessor da empresa familiar também lida com situação ambígua.

Em suma, na administração da entidade familiar, possuir uma essência consistente de regras e acordos, uma governança bem arquitetada e líderes da família que tenham compromisso com a perpetuidade do patrimônio.

Pensando estrategicamente: As organizações que acabaram de iniciar suas atividades, sejam familiares ou não, geralmente, têm o hábito de não ser bem estruturadas e de ter processos ainda não planejados, o que é normal. Com o avanço do empreendimento, a entidade precisa se estruturar para se desenvolver sustentavelmente através de métodos e processos integrados.

Muitos líderes acreditam que o negócio conseguiu crescer sem se profissionalizar, estando imune a eventualidades. Não obstante, como todo empreendimento é criado com a intenção de que haja expansão e com a vontade de agregar valor, as entidades familiares devem estar planejadas para esse desenvolvimento.

Na administração de organizações familiares, principalmente, quando se fala em profissionalizar a gestão, de acordo com o senso comum, deve-se apenas alterar o modelo do negócio, de familiar para não familiar. Obviamente, tem-se um equívoco, visto que profissionalizar a liderança não consiste em somente substituir entes familiares por profissionais que não possuem parentesco.

A profissionalização, é o método por meio do qual uma entidade familiar ou comum manifesta comportamento administrativo mais racional, moderno e menos personalizado. Trata-se do procedimento de interagir gestores contratados, do quadro associativo e que recebam salários, na mesa de decisões, trata-se também da substituição de metodologias intuitivas por modelos impessoais e com uso da racionalidade.   


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