Covid-19: Trabalho, desemprego e qualificação

Posted on 30 de novembro de 2020

Todo indivíduo cresce ouvindo que “o trabalho dignifica o homem”. O ditado é verídico, uma vez que a ocupação profissional traz sentido para as nossas vidas e nos motiva, financeiro ou psicologicamente, a levantar da cama todos os dias. É com o resultado do nosso trabalho que realizamos sonhos, provemos o nosso alimento e desenvolvemos nossas habilidades.

Segundo teses da psicologia, concordantes com a sabedoria popular, o trabalho é mesmo condição hegemônica para a realização humana. Não tem a ver somente com o ganha pão, mas com sentir-se útil à sociedade e a si próprio, promovendo sentido a sua vida. Em contrapartida, a inatividade afeta negativamente o indivíduo, pois “diminui” a sua dignidade.

Neste ponto, é válido explicar a diferença entre trabalho e emprego. Ao realizar um trabalho, o indivíduo não é necessariamente recompensado pecuniariamente pela tarefa desempenhada, como no caso de um trabalho voluntário. Em contrapartida, o conceito de emprego é validado na remuneração da atividade física e/ou mental do trabalhador, paga por uma empresa ou instituição, geralmente em forma de salário.

Por isso, o sucesso profissional é parte substancial na construção da autoestima e satisfação pessoal. Nos tempos de escola, os trabalhos em grupo já servem para reunir indivíduos de personalidades diferentes, mas com interesses em comum, por exemplo. Na idade adulta, o emprego é o pilar dos relacionamentos interpessoais, pois é nele que passamos a maior parte do nosso tempo.

Todavia, escola e trabalho não se relacionam só na infância e adolescência. No mercado de trabalho atual, as ofertas dos cargos responsabilizam o indivíduo pelo seu desemprego, por causa da sua baixa qualificação profissional. Isto deve-se também às mudanças do mundo globalizado, onde o índice de capacitação é baseado no saber da ciência e tecnologia.

As inovações tecnológicas foram as grandes responsáveis pelas mudanças estruturais e organizacionais dos ambientes de trabalho. Tais transformações reestruturaram a cultura e filosofia do trabalho humano, mas também fomentaram as desigualdades sociais, alavancando os índices de desemprego e subemprego no mundo todo.

Vamos refletir: … O conhecimento como capital intelectual passou a privilegiar métodos imateriais de produção, como as Tecnologias da Informação e Comunicação, que requerem entendimentos e habilidades mais exigentes e elevados. A qualificação profissional, que até então era um aspecto desejável e funcional, tornou-se condição básica de produtividade.

Por conta disso, diversas empresas adotam a gestão do conhecimento para orientar os seus funcionários na produção e disseminação de informações que agreguem valor. Através de canais tecnológicos, elas disponibilizam as informações para todas as áreas, a fim de fortalecer o relacionamento interno, melhorando o clima organizacional e instigando o aprendizado dos empregados.

Outro maneira encontrada pelas empresas para potencializar a aprendizagem da sua equipe é a criação de programas de graduação personalizado, em parceria com Universidades públicas e privadas. Neles, os gestores promovem as ações de desenvolvimento dos participantes, contribuindo para a transformação e o crescimento profissional desses funcionários.

Pensando estrategicamente… a educação é um fator que está diretamente ligado ao emprego e à remuneração. Há uma triste segmentação no mercado de trabalho. De um lado temos os trabalhadores formais (empregados com carteira, funcionários públicos e militares), com maior rendimento e acesso aos benefícios da classe trabalhadora. Do outro, estão os trabalhadores informais (empregados sem carteira, autônomos e empregadores), sem qualquer tipo de privilégio.

A afirmação clichê de que a educação faz bem para um país é mais do que correta. Comprovadamente, a educação traz desenvolvimento social e econômico em um contexto macro, além de melhorar a capacidade produtiva, interpessoal e social de um indivíduo.

Contudo, gastar em educação não é suficiente para gerar um desenvolvimento exponencial. Recentemente a conversão da Covid-19 em pandemia mundial, amplificou a crise econômica que há algum tempo já deixava sinais de alerta ao sistema econômico global, no Brasil, a chegada dessa nova crise é muito grave, uma vez que a economia do país, além de não ter se recuperado da expressiva recessão ocorrida entre os anos de 2015 e 2017, apresentou apenas pequenos sinais de retomada em 2018 e 2019. Com isso, os impactos da crise da Covid-19 na economia nacional em 2020 vêm se somar a um quadro socioeconômico que já se encontrava em franca degradação.

Ao contrário da imagem que se tentam passar, os efeitos econômicos da Covid-19 não terão curta duração. A pandemia deflagrou uma crise mundial que deve refletir pelos próximos anos. No Brasil, essa crise será utilizada como argumento pelos políticos que a qualquer custo se defenderão de qualquer acusação dizendo que a economia e o mercado de trabalho vinham bem até o início de 2020.

Antevemos que as medidas adotadas até o presente momento não serão capazes de conter a queda da renda dos trabalhadores. Tais medidas parecem ir mais no sentido de tornar a degradação do mercado de trabalho nacional permanente do que de garantir um nível de emprego adequado e um patamar de renda suficiente para atender às necessidades básicas da população.

Inversamente às medidas que vêm sendo adotadas, os próximos períodos irão mostrar uma vez mais que o problema preponderante não é o custo do trabalho, mas a incapacidade da própria dinâmica econômica em gerar novos empregos com qualidade e em quantidades suficientes para atender todos os trabalhadores do país que atualmente se encontram efetivamente fora do mercado de trabalho organizado.


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