Competições universitárias: construindo atletas de negócios

Posted on 23 de março de 2019

O mercado de trabalho e a universidade são dois ambientes que disputam a atenção dos estudantes de ensino superior mundo afora, e ambos precisam aprender a conviver harmoniosamente entre si. É nesta perspectiva de integração e diálogo, diferentemente do que o conceito de concorrência propõe, que as competições universitárias têm despontado nos últimos anos dentro das instituições acadêmicas, atendendo demandas mercadológicas e acadêmicas. 

Entende-se competição como um tipo de disputa que está diretamente ligada, pelo senso comum, ao universo esportivo – onde os atletas seguem regras ou regulamentos, cumprem determinados requisitos de uma modalidade e visam à conquista de um troféu ou medalha, como reconhecimento da vitória. De qualquer forma, o significado de competição é mais amplo e positivo do que o de concorrência, designado para todo tipo de enfrentamento – como uma disputa por um cargo em uma empresa, por exemplo.

Competições universitárias têm o desígnio de testar as habilidades dos estudantes para além das salas de aulas e muros acadêmicos. Os participantes se relacionam com profissionais do mercado de trabalho e ganham visibilidade na área, dois itens importantes para quem está na linha de partida da carreira. Além de networking, os alunos concorrem a prêmios – como bolsas de estudos e viagens – que preenchem uma lacuna importante no currículo de qualquer profissional em formação.

As competências comportamentais também são determinantes para o sucesso dos vencedores das disputas. Aqueles que conseguem se relacionar com os outros membros da equipe também alcançam resultados superiores, ressaltando a importância do trabalho em grupo. Foco, resiliência e trabalho em equipe são justamente os maiores desafios enfrentados pelos novos profissionais do mercado.

Nos últimos anos, as disputas educativas vêm ganhando espaço nas universidades de todo o mundo. As áreas de competições mais recorrentes são as de administração, engenharia, direito, arquitetura, comunicação e negócios. De acordo com relatos dos organizadores, tais competições quebram o paradigma bucólico dos métodos de aprendizagem, tornando o ensino interativo. Durante as disputas, os alunos fazem atividades imersivas e desbravam campos de conhecimentos inabitáveis em uma sala de aula.

Na Europa e nos Estados Unidos, o interesse do corpo discente pelas disputas faz com que as universidades elaborem um calendário anual. As mais famosas são aquelas voltadas para os cursos de ciências e tecnologias, onde as equipes participantes precisam construir algum equipamento para vencer um desafio. No Brasil, geralmente as competições universitárias são fomentadas – e financiadas – por mentores, em parceria com empresas do setor privado, como estímulo na preparação dos profissionais do futuro.

A linha tênue das relações entre universidade e mercado de trabalho é debatida há décadas. Em terras brasileiras, o meio universitário deixou de dialogar com a prática. As universidades públicas defendem a independência de suas pesquisas, ao passo que as empresas e faculdades privadas querem a união estável entre indústria e produção acadêmica, a fim de solucionar a gama de problemas sociais complexos que aparecem em um ambiente econômico desfavorável como o atual.

Os incentivadores das disputas educativas, no Brasil, alegam que essa rixa entre conceitos acadêmicos e atividades práticas deve ser extinguida, uma vez que o aluno necessita desses dois espectros na sua formação. Além disso, as competições trazem os problemas reais do “mundo externo” para dentro da sala de aula, contribuindo tanto para o conhecimento técnico resolutivo quanto na autoavaliação dos participantes.

Pensando estrategicamente… a prática científica não pode ser caracterizada pela competição entre pesquisadores como principal fim, já que isso levaria à deturpação de resultados ou dos princípios deste fazer. Porém, em contextos controlados e com regras pré-estabelecidas, a competição pode sim ser salutar à Ciência. As disputas educativas possuem potencial para inspirar soluções de problemas relevantes, e delas surgirem grandes avanços científicos e tecnológicos.

Portanto, a mudança ocorre através da experiência do professor instrutor. Associado a esse novo papel, exige-se a configuração de correntes pedagógicas modernas, causando transformações não só nos estudantes. Desejam-se professores e alunos que interajam nesse ambiente colaborativo como verdadeiros engenheiros de disciplinas, adequando-as às necessidades do meio universitário. Os professores passam a atuar como verdadeiros tutores dos alunos. Eles, por sua vez, transformam-se de meros receptores passivos do conhecimento a solucionadores de problemas. Juntos, trabalharão na construção de um novo perfil educacional e profissional.


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