Black Friday à Brasileira: enfim somos ou não os “reis” da enganação?

Posted on 29 de novembro de 2017

Com crise, ou sem crise, é fato que o movimento de consumo nunca para. O que muda agora são as escolhas, preços, qualidade e real necessidade de compra. E em tempos de “vacas magras”, nada é mais valorizado do que o desconto.

Famosa nos Estados Unidos e presente no Brasil há cerca de 5 anos, a Black Friday se tornou um conhecido movimento de estimulo de compras e vendas, a partir de descontos agressivos de varejo que vão desde eletrodomésticos, viagens, cosméticos até vestuário.

Assim como em outros países, no Brasil, a Black Friday é uma famosa liquidação, que acontece sempre na última sexta feira do mês de novembro, e muitas vezes é a oportunidade única do ano, onde pessoas compram muito gastando pouco, pelo menos esta é a ideia.

O evento comercial chegou ao Brasil em 2010 reunindo mais de 50 lojas de varejo e foi totalmente online. Ironicamente, a Black Friday nacional chegou junto a um acontecimento sociológico especialmente oportuno: o surgimento da nova classe média (a “classe C”) que nasceu ávida por consumir de tudo, sem medir as conseqüências financeiras futuras.

Mas mesmo com toda essa propaganda estrangeira, na prática, algumas empresas utilizam desse movimento do mercado para alavancar vendas, embora nem sempre dando descontos expressivos ao cliente, como é o conceito da ação lá fora.

Muito mais do que uma oportunidade de venda, a maioria dos brasileiros empresários e comerciantes, viram nessa ocasião um período interessante para adotar a data como estratégia de negócio e fomentar as vendas na véspera do Natal. Dessa forma, conseguem antecipar as chances de compra, por preços tecnicamente mais acessíveis. E assim, do jeitinho brasileiro, nasceu a “Black Fraude”. O termo é uma maneira de dizer que as esperadas promoções, na verdade, não passam de propagandas enganosas.

“Se nos Estados Unidos, a Black Friday é a largada para a temporada de compras de Natal, no Brasil, a data é usada por alguns varejistas para enganarem consumidores ávidos”. Foi assim que o site da revista norte-americana “Forbes” destacou a ação, no ano passado. Não por acaso, a Fundação Procon-SP fez uma lista com o nome de 325 lojas online que devem ser evitadas por já terem sido alvo de reclamações de consumidores.

Mas porque nos EUA as filas são enormes e no Brasil tememos tanta enganação? A diferença é que lá, os consumidores são mais conscientes quanto aos seus direitos – tanto que por várias vezes tendem a abusar deles. Já aqui, isso não acontece. Somos uma sociedade litigiosa. No Brasilnós somos enganados diuturnamente, massacrados financeiramente, mas sorrimos e agüentamos firme.

No entanto, apesar de algumas empresas usarem da “farsa” com o produto no dobro do preço, mesmo querendo, outras não conseguem dar grandes descontos. Muitas vezes a expectativa do público é comprar com 50% de desconto, mas devido à alta carga tributária, isso fica impossível.

Em raros casos, na contramão da briga com os impostos, os lojistas lutam de várias maneiras para repassar o tão sonhado desconto aos clientes, como as negociações de estoque com a indústria, e até mesmo a diminuição da margem de lucro interno.

Mas, independente de trapaças ou boas intenções, segundo a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), mesmo em tempos de contenção de gastos, os brasileiros devem gastar 15% a mais em relação ao ano passado, o que para um ano difícil economicamente, como este que estamos vivendo, significa muito mais do que uma fortuna.

Diante desse paradoxo e pensando estrategicamente, será que somos ou não os “reis” da enganação? Estamos sendo enganados ou nos deixando enganar? Estamos sendo passados para trás, ou implorando por um motivo para comprar, mesmo que isso vá sangrar nosso próprio bolso no dia seguinte?

Precisamos adquirir consciência de nós mesmos, e ter a certeza de que se estamos sendo enganados, é porque estamos dando espaço para que alguém ou um grupo de pessoas tire vantagem – mais uma vez – sobra para o povo.


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