Empresas familiares vencem o desafio de durar por gerações

Posted on 3 de março de 2017

A família ou grupo familiar sempre representaram um conjunto de recursos de pessoas, força de trabalho, conhecimentos, laços de lealdade – mobilizados para a luta pela sobrevivência conjunta.

Podiam ganhar seu sustento de diversos modos: produzindo vinhos, saquê, cachaça, cerâmica, objetos de ouro e objetos de metal, armas, construções, oferecendo serviços de carga e transporte marítimo, serviços bancários, serviço de hotelaria ou spa, loja de livros, etc. Lógico que tudo dependia de contexto, país e cultura em que elas se situavam.

Parece haver um consenso de que os negócios familiares acrescentam mais complexidade, isso por conta dos laços afetivo-emocionais, dos interesses em jogo que envolvem desde a dependência para sobreviver, direitos de propriedade, repartição de dividendos, além de disputas de espaço de influência e de poder.

O fundador ou fundadores, ainda como garantia de sobrevivência, podem acrescentar ao negócio a ambição de crescimento e/ou até mesmo a de perpetuidade, ou seja, sonhar com a continuação do legado dentro da própria família.

 

Desafio está em gerenciar empresa, relacionamentos e sucessão

A gestão do negócio já coloca muitos desafios. Imagine então o que representam os desafios para fazer com que a intersecção de negócio (empreendedorismo e gestão), família (relacionamentos e afetos) e de propriedade (direitos de herança). Certamente que a clareza da comunicação e a disposição em dirigir o negócio com transparência – de propósitos, regras e gestão de resultados – são mais do que fundamentais.

Não existe dúvida quanto à importância econômico-financeira dos empreendimentos familiares: somando todos os portes de negócios, eles representam entre 95% (Itália), 90% (Brasil – negócios informais e formais) e 63% (França). Por si só, esses índices revelam o papel que as famílias ditas empresárias representam para os países.

Pesquisa lista empreendimentos familiares mais duradouros

Mas, antes mesmo de abordar o que esses empreendimentos familiares que atravessam gerações têm de lição para os demais, gostaria de apontar várias curiosidades. Afinal, não é sempre que alguma fonte nos indica, por exemplo, quais seriam os negócios familiares mais antigos do mundo, ou os mais antigos do Brasil. E os que atravessam as gerações seriam, necessariamente, aqueles que teriam crescido? Vejamos alguns exemplos que teriam lições a ser exploradas posteriormente.

Numa lista de negócios familiares mais antigos do mundo (elaborada por O´Hara e Mandel) fica-se realmente surpreendido com a longevidade de certos empreendimentos. Um deles já alcançou a 46ª. geração!

Trata-se de uma família japonesa – Hoshi – que desde o ano 718 construiu e explora uma fonte de água termal, oferecendo serviços de banhos e de hotelaria na região de Hayakawa, província de Yamashi. Nome do hotel: Nisiyama Onsen Keiunkan. É, segundo o Guinness Records, o hotel (é um resort + spa)  mais antigo, ainda em operação, do mundo.

Também no Japão e, modestamente, tinha alcançado a 40ª geração, encontrava-se a empresa Kongo Gumi, dedicada à construção. Inicialmente, membros da família coreana teriam sido trazidos, em 578, ao Japão para construir um templo budista, o Shitenno-ji, que ainda existe.

Um engenheiro da família teria decidido empreender e deixaram suas marcas, como, por exemplo, o Castelo de Osaka. Era especializada em construção e restauração de templos e santuários budistas. Mas em meados do século passado teriam enveredado também no mercado de construção de residências.

Pena que esse grupo familiar, que atravessou uns 1.400 anos, não foi capaz de resistir à crise recente e, em 2006, foi incorporado por outro grupo o Takamatusu. Na época, tinham uns 100 empregados.

Não vou necessariamente seguir a ordem da lista mencionada. Por curiosidade, busco outro país – França – onde enfocamos o exemplo do Château de Goulaine, cujo negócio existe desde o ano 1000! E dedicando-se sempre aos vinhedos e produção de vinhos, tendo agregado um museu e uma coleção rara de borboletas. O castelo é locado ainda para vários eventos, por exemplo, casamentos.

Indo à Itália, para enfocarmos um tipo de negócio bem diferente, tem-se a família Borovier & Toso, que desde 1295, por 20 gerações, se dedicado à produção de vidros: cristais e vidros aperolados, na Ilha de Murano. Eles possuem o segredo de produzir um tom de vermelho, o cornelian, sem fazer uso do ouro.

Chegando mais próximo às nossas origens, cito a família JB Fernandes e Filhos, com um negócio dedicado à produção de ferramentas e ferragens, desde 1778, sendo, ainda hoje, líder desta indústria em Portugal, na 16ª geração.

Vindo para as Américas, encontra-se o negócio de tequila da família Jose Cuervo, no México, fundado em 1758, com a aquisição de terras do rei da Espanha, o qual concede, em 1795, a licença para a produção da bebida. E a quem não sabe (eu também não sabia), cuervo é coroa em espanhol. Atualmente, a marca está em negociações com a Diageo, um dos maiores grupos de bebidas do mundo.

E no Brasil? Encontra-se a referência de que a família Telles, na quarta geração, encabeçaria a empresa mais antiga do Brasil – com 163 anos de mercado, fabricando cachaça e ex-dona da marca Ypióca (em tupi terra roxa).

Essa empresa iniciou a produção de cachaça no Ceará, em 1846, com um alambique trazido de Portugal. Foram pioneiros em envelhecimento de cachaça e na exportação deste produto para a Alemanha. Digo ex-dona porque, numa outra ofensiva de aquisição, o Grupo Diageo comprou a empresa em maio deste ano por R$ 900 milhões.

Aqui já temos vários casos, e bem contrastantes. Por que alguns empreendimentos familiares atravessam tantas sucessões e outros não?

 

Fonte: Portal UOL


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