CRESCIMENTO ECONÔMICO: COMO SERÁ O SEGUNDO SEMESTRE DE 2022?

Posted on 10 de agosto de 2022

No momento que o Brasil e outras economias mundiais, lutam para se recuperar da pandemia da COVID-19, os primeiros seis meses de 2022 foram marcados por um ambiente macroeconômico incerto: de uma guerra na Europa até milhões de pessoas vivendo um lockdown Chines, passando por todas as consequências que vieram no vácuo desses eventos, com destaque para o avanço desenfreado da inflação em todo o mundo. As perspectivas não são animadoras nessa virada de semestre para a economia global.

É unânime entre os especialistas o alerta de que os próximos meses ainda devem ser de grande turbulência. De um lado, uma pressão inflacionária persistente em nível mundial, de outro, os bancos centrais não poupando esforços para segurá-la e adotando medidas de política monetária mais contracionistas, com a elevação das taxas de juros. Neste contexto, as indicações são de que o mundo não escapará de uma recessão generalizada mundo afora.

De acordo com o economista Matheus Pizzani, da CM Capital, para o segundo semestre, “a principal expectativa está voltada para as consequências mais palatáveis da política monetária no campo interno, que deve começar a fazer efeito e ajudar no processo de controle da inflação”.

Em relação ao cenário externo, o mundo olha com atenção uma provável desaceleração das economias desenvolvidas, especialmente nos Estados Unidos e na Zona do Euro.

Nas últimas semanas, manifestações dos bancos Goldman Sachs, Bank of América e do economista Robert Shiller referem-se às possibilidades de que os Estados Unidos enfrente  uma crise econômica, estão entre 30 e 50%.

Por outro lado, segundo ele, as atenções estarão focadas na meta de inflação proposta para o ano de 2023, uma vez que o controle dos preços dentro do que foi proposto pelo Regime de Metas de Inflação (RMI) tem demonstrado inatingível nas condições atuais.

Igor Cavaca gestor da Warren Asset, argumenta que o principal fator do processo inflacionário atual, deve continuar elevado no mundo em decorrência da quebra dos processos de produção e logística provocados pelas medidas de isolamento social adotadas ao redor do mundo para conter a pandemia de covid-19.

A pandemia “quebrou a espinha dorsal” de toda a cadeia produtiva, com um rápido congelamento da produção e consumo, e, posteriormente, uma maior lentidão da retomada das atividades normais.

 Vamos refletir: Com o avanço da vacinação e a retomada da atividade econômica, a volta do padrão de consumo mundial já era esperada. Pizzani afirma no entanto, que neste movimento, dois fatores acabaram por surpreender o mercado: primeiro – a magnitude com que isto aconteceu, com a pressão sobre o lado da oferta sendo mais intensa e, segundo, a combinação da migração dos gastos pessoais para o setor de serviços e bens não duráveis e serviços com a manutenção dos gastos no grupo de bens duráveis, disseminando a inflação para todo o conjunto da economia.

O início de guerra Rússia x Ucrânia, uma das principais regiões exportadoras de petróleo, gás natural e diversas commodities alimentares, simultaneamente, impactou a oferta de muitos produtos em um momento no qual demanda seguia aquecida, contribuindo para a escalada dos preços.

Segundo Marcos Crivelaro, professor de finanças – “O aumento de preços e serviços sempre é motivada pela escassez de recursos ou pelo receio de cenários negativos futuros (insegurança). A guerra Rússia x Ucrânia, a crise de abastecimento da China e o cenário pós pandemia trouxeram esses dois fatores para a realidade do mundo. No Brasil existe também o confuso cenário político e jurídico.”

Segundo Alfrânio Trescher, especialista do Sistema Ailos, o impacto para a economia brasileira no semestre também não são das melhores, ele diz que “embora o Banco Central tenha iniciado o ciclo da alta de juros no País muito antes do que as outras nações desenvolvidas, a economia brasileira ainda deve sentir até o final de 2022 os efeitos de uma “inflação importada”.

Muitos produtos, a começar pelo combustível, são importados e têm seus preços expostos às oscilações do exterior. No caso dos combustíveis, os preços são influenciados pela cotação do petróleo, e essa é uma das portas que a inflação global entra no País.

Pensando estrategicamente: … no cenário internacional, explica o economista da CM Capital, os Estados Unidos e a Zona do Euro ainda se encontram no início de seus ciclos de contração monetária. Na última reunião do FOMC, o comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, o que não acontecia desde 1994. Foi sinalizado pela instituição, a manutenção do ciclo de aumentos para as próximas reuniões, “que devem inclusive contar com novas elevações de 75 pontos-base, algo inédito e de grande impacto para a economia norte-americana”, destaca Pizzani.

As projeções para o crescimento da economia brasileira se mostrou melhor do que estávamos esperando no final do ano passado. A inflação seguiu um processo acelerado, a política monetária em terreno mais contracionista, mesmo assim, os efeitos sobre a economia real foram menos intensos, com continuidade da recuperação da produção e melhora do mercado de trabalho. Para os próximos trimestres devemos seguir observando comportamento parecido, mas com menor intensidade.”

A guerra da Rússia x Ucrânia pode acabar impulsionando o crescimento brasileiro por conta das commodities. Como a Ucrânia é um importante exportador de alimentos como trigo e milho, por exemplo, a beligerância na região impede a exportação dos produtos e, assim, a demanda pelas commodities brasileiras cresce, gerando mais receita para o País.

No entanto, especialistas ressaltam que esse é um movimento de curto prazo. Para eles, ao pensar no médio prazo, a política monetária mais contracionista adotada pelo Banco Central já deve ter começado a afetar o crescimento da economia brasileira.


No Replies to "CRESCIMENTO ECONÔMICO: COMO SERÁ O SEGUNDO SEMESTRE DE 2022?"


    Got something to say?

    Some html is OK